quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Uma Visão realista sobre a crise na Somália

Presidente internacional de Médicos Sem Fronteiras, Dr. Unni Karunakara, publica artigo sobre a crise na Somália e lembra das causas humanas para a fome na região

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Doutor Unni Karunakara, presidente internacional de MSF, visita o hospital de MSF em Galcayo, cidade da Somália 

5 de setembro de 2011 - A emergência atual na Somália e nos países vizinhos está sendo descrita por muitas organizações de ajuda humanitária e pela mídia em termos simplistas, como "fome no Chifre da África" ou "pior seca dos últimos 60 anos". Mas culpar apenas causas naturais é ignorar a complexa realidade geopolítica que contribui para essa situação e sugerir que a solução para tais problemas se resume apenas a arrecadar fundos e enviar alimentos para o Chifre da África. Infelizmente, esconder as causas humanas para a fome na região e as dificuldades na resposta à crise não vão ajudar a resolver os problemas.

Acabo de retornar do Quênia e da Somália e o que eu e meus colegas de Médicos Sem Fronteiras (MSF) vimos naqueles países foi uma situação profundamente perturbadora. Em Mogadíscio, conheci uma jovem da região de Lower Shebelle, no sul do país, que agora vive em um dos acampamentos improvisados que se multiplicam pela cidade. Ela deixou sua casa com o marido e seus sete filhos após uma colheita muito ruim, e porque não tinha dinheiro para comprar água e alimentos. Durante sua jornada, ela teve que deixar seu marido e três de seus filhos para trás, pois eles estavam muito fracos para completar a viagem de cinco dias até a capital. É triste perceber que a história dela reflete a de outras milhares de famílias nas regiões central e sul da Somália, que foram devastadas por anos de conflito e que chegaram ao seu limite com a seca.

A desnutrição é crônica em muitas áreas do Chifre da África, e é preciso que haja um esforço internacional de longo prazo para garantir que alimentos cheguem às pessoas que mais precisam deles. Hoje, no entanto, as necessidades mais urgentes estão concentradas nas regiões central e sul da Somália. E mesmo não conhecendo o panorama em todo o país, nós sabemos que a situação é crítica devido à enorme quantidade de somalis que chegam, fracos e exaustos, na capital, Mogadíscio, e em acampamentos no Quênia e na Somália.

As colheitas fracas exacerbaram uma situação que já era catastrófica. A Somália é o palco de uma guerra brutal entre o Governo de Transição, que recebe o apoio das nações ocidentais e é guardado pelas tropas da União Africana, e grupos armados de oposição, com destaque para o Al-Shabaab. Em um cenário político fracassado, essa guerra, combinada com as mortíferas rivalidades de diversos clãs no país, impediu que a ajuda humanitária internacional independente chegasse a várias comunidades. A população somali está encurralada, no meio de múltiplas forças que, seja por motivos políticos ou para enfraquecer seus oponentes, privam as pessoas de receber assistência. O acesso a cuidados de saúde é praticamente inexistente em grande parte do país. 

Em meio a esse cenário, onde muitos interesses estão em jogo, é difícil para uma organização de ajuda médico-humanitária como MSF expandir a oferta de cuidados de saúde e realizar ações de impacto. MSF está trabalhando na Somália há duas décadas e tem projetos em nove locais, que estão sob domínio de diferentes lados do conflito – Governo de Transição e Al-Shabaab. Nós estamos fazendo o máximo possível para aumentar nossa presença no país e responde às crescentes necessidades. Já existem mais de 8 mil crianças com desnutrição aguda em nossos programas nutricionais no país, e muitas delas não estão sofrendo apenas de desnutrição. As quatro crianças que saíram de Lower Shebelle que conheci também estão com sarampo, além de desnutridas. Elas vivem com a mãe e com milhares de deslocados em acampamentos superlotados, sem condições sanitárias. Outras pessoas nesses campos reclamam de infecções nos olhos e na pele, e há ainda aquelas que estão fracas demais até para procurar alimentos ou cuidados médicos. 

Em campos de refugiados no Quênia e na Etiópia, nós conseguimos oferecer ajuda médica e nutricional para dezenas de milhares de pessoas. Mas expandir as nossas atividades na Somália é um processo lento e difícil. MSF é constantemente forçada a fazer duras escolhas na hora de implementar ou aumentar suas atividades no país. E se não pudermos fazer avaliações independentes e oferecer assistência em áreas que acreditamos que estão mais afetadas, não seremos capazes de prevenir as piores conseqüências desta emergência. 

A ajuda humanitária é vista no país, por todas as partes em conflito, como uma oportunidade ou uma ameaça. Em áreas consideradas como o centro desta crise, o Al-Shabaab, que já suspeita de interesses ocidentais no país, decretou a proibição da entrada de equipes internacionais, do envio aéreo de materiais e suprimentos médicos e da realização de campanhas de vacinação. Nem mesmo a suspensão temporária das restrições aos Estados Unidos na oferta de ajuda em certas áreas controladas pelo Al-Shabaab deve melhorar o acesso a cuidados de saúde. Em outros locais, a necessidade de conduzir intermináveis negociações para realizar procedimentos simples, como contratar uma enfermeira ou alugar um carro, toma grande parte de um tempo precioso, que poderia estar sendo empregado na resposta rápida que o país precisa.

A realidade da oferta de ajuda humanitária na Somália é a pior possível. Nossas equipes correm constantemente o risco de levarem tiros ou serem raptados enquanto tentam dar assistência médica fundamental para a população no país. Apesar de nossas constantes negociações com todas as partes do conflito para ganhar acesso a novas regiões, nós talvez tenhamos que nos conformar com a triste realidade de que não conseguiremos chegar até as comunidades que mais precisam de ajuda. Ou que teremos que comprometer parcialmente nossa independência quando finalmente conseguirmos chegar a elas. A menos que todas as partes envolvidas no conflito removam as barreiras que estão separando organizações que podem salvar vidas das pessoas que dependem delas para sua sobrevivência, milhares de pessoas continuarão morrendo por causas que poderiam ter sido evitadas.

Dr. Unni Karunakara

Presidente Internacional da organização Médicos Sem Fronteiras
Este artigo foi publicado pela primeira vez no jornal The Guardian. Leia aqui o artigo original, em inglês




Fonte>http://www.msf.org.br/noticias/1321/uma-visao-realista-sobre-a-crise-na-somalia/
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Crise de fome na Somália

Por Katy MigiroNAIRÓBI (Reuters) - 
A Organização das Nações Unidas declarou estado de fome em duas regiões no sul da Somália nesta quarta-feira e disse que a condição se espalhará rapidamente a menos que doadores tomem medidas.Mark Bowden, coordenador humanitário para a Somália, disse que o sul de Bakool e o Baixo Shabelle haviam sido atingidos pela pior fome na região em 20 anos.A ONU está propondo "medidas excepcionais" para fornecer "ajuda humanitária em dinheiro" enquanto encontra uma forma de arrecadar volumes maiores de ajuda em alimentos para o sul da Somália, disse Bowden. A ONU também está pedindo 300 milhões de dólares durante os próximos dois meses para a Somália."Se não agirmos agora, a fome irá se espalhar para todas as oito regiões do sul da Somália em dois meses, devido à colheita precária e aos surtos de doenças infecciosas", disse Bowden."Cada dia de atraso em assistência é literalmente uma questão de vida ou morte para crianças e suas famílias nas áreas afetadas pela fome."Segundo a ONU, 3,7 milhões de pessoas na Somália, o equivalente a quase metade da população, está agora em risco. Dessas, 2,8 milhões estão no sul do país, localizado no Chifre da África e assolado por guerras.Nas regiões mais duramente atingidas, metade das crianças estão subnutridas."É provável que dezenas de milhares já morreram, a maioria delas, crianças", disse Bowden.Anos de secas, que também atingiram o Quênia e a Etiópia, prejudicaram a colheita e conflitos tornaram extremamente difíceis para as agências operarem e acessarem as comunidades no sul do país.O sul é controlado por insurgentes islâmicos do Al Shabaab, filiado à Al Qaeda, que estão lutando para derrubar o governo apoiado pelo Ocidente. O grupo também controla parte da capital Mogadíscio e o centro da Somália.No começo de julho, rebeldes suspenderam uma proibição à ajuda alimentar que segundo eles, criava uma dependência. Alguns analistas acreditam que eles estão permitindo a entrada de ajuda porque temem pelo respaldo público se não o fizerem. Outros acreditam que os rebeldes querem subornos.


Fonte > http://extra.globo.com


A seguir, fotos tiradas no dia 26 de julho deste ano. Nesta, mulher segura filho desnutrido em hospital de Mogadishu, na Somália

A seguir, fotos tiradas no dia 26 de julho deste ano. Nesta, mulher segura filho desnutrido em hospital de Mogadishu, na Somália 




A criança chora enquanto espera pelo atendimento

A criança chora enquanto espera pelo atendimento 


A situação da Somália é crítica. A ONU enviou, nesta segunda-feira, ajuda humanitária ao país


A situação da Somália é crítica. A ONU enviou, nesta segunda-feira, ajuda humanitária ao país

Em julho, a entidade declarou estado de crise de fome em duas regiões do país

Em julho, a entidade declarou estado de crise de fome em duas regiões do país


Mães e filhos esperam por atendimento em hospital, que está em situação precária e mal consegue atender aos pacientes

Mães e filhos esperam por atendimento em hospital, que está em situação precária e mal consegue atender aos pacientes


A crise de fome afeta mais de 11 milhões de pessoas na Somália

A crise de fome afeta mais de 11 milhões de pessoas na Somália 

A situação é agravada pela seca e pelo conflito político no país

A situação é agravada pela seca e pelo conflito político no país 

Pela primeira vez em cinco anos, a ONU enviou ajuda de emergência para a capital da Somália, Mogadíscio

Pela primeira vez em cinco anos, a ONU enviou ajuda de emergência para a capital da Somália, Mogadíscio 


Ao todo, 34 toneladas de suprimentos foi enviado ao país. Na foto tirada nesta segunda-feira, criança chora no hospital

Ao todo, 34 toneladas de suprimentos foi enviado ao país. Na foto tirada nesta segunda-feira, criança chora no hospital

A medida só foi possível depois que militantes islâmicos do al-Shabab deixaram a capital após confronto. A seguir, fotos tiradas no domingo passado.

A medida só foi possível depois que militantes islâmicos do al-Shabab deixaram a capital após confronto. A seguir, fotos tiradas no domingo passado

Menina de seis meses sofre de desnutrição

Menina de seis meses sofre de desnutrição

A ala de pediatria do Hospital de Banadir está lotada

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Criança carrega irmã no colo na fila por alimentos em Mogadishu

Criança carrega irmã no colo na fila por alimentos em Mogadishu

Refugiados em abrigo improvisado na capital da Somália

Refugiados em abrigo improvisado na capital da Somália

Fotos retiradas do site> http://extra.globo.com
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