Confira na íntegra a primeira adaptação feita do clássico de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas para o cinema no ano de 1903, restaurado pela British Film Institute e disponibilizado para o grande publico da rede.
Nada mal a produção do filme para um cinema que ainda nem havia completado uma década de existência.
Lewis Carrol e Alice: a pedofilia por trás da obra
Muito em breve o clássico da literatura Universal, Alíce no pais das Maravilhas, estará novamente nos cinemas (adaptada pela milésima vez). Enquanto o longa do diretor Tim Burton não chega as telas, resolvi fazer um breve enxerto de matérias que falam do célebre escritor da obra infanto-juvenil e sobre uma suposta obsessão do escritor Lewis Carrol por menininhas, o que resultou numa série de biografias controversas a vida deste que além de autor das obras Alíce no pais das Maravilhas e Alice no país do espelho fora matemático, lógico e fotógrafo. E que por sinal, adorava fotografar inocentes menininhas de sua época. 'Gosto de crianças (excetos meninos)' - diria ele, em uma de suas frases marcantes. Mas o que torna mais instigante a história de Lewis Carroll envolvendo pedofilia, era que o autor adorava fotografar meninas seminuas (com a autorização da mãe). Poucas destas fotos sobreviveram, ao todo apenas cinco, já que o próprio pedira que após sua morte fossem destruídas ou devolvidas as crianças e aos seus pais. Em 'Pleasures Taken - Performances of Sexuality and Loss in Victorian Photographs', livro da autora Carol Mavor, é possível ser encontrada umas das fotografias fotografadas por Carrol, sua modelo seria a menina Evelyn Hatch completamente nua, tirada em 1878.
Polêmica fotografia de Alice Lindell fotografada por Lewis Carroll
Dúvidas e polêmica a parte, o fato é que as cartas de Lewis Carroll às meninas de quem ele fotografou revelam uma intimidade fora do comum. Em umas destas cartas, queimadas pela mãe da menina que inspirou o autor na sua mais famosa personagem da literatura 'Alice', Carrol se despedia dela com dez milhões de beijos, além de costumar pedir de presente cachos de cabelos para beijar. Há quem diga que o édipo do autor fosse mal resolvido, como explica a psicanalista Phyllis Greenacre, fazendo a analogia de que este poderia projetar nas meninas a imagem da mãe, uma vez que a diferença de idade entre Carrol e sua modelo era quase similar.
Em matéria do Jornal do Brasil, publicada em 24 de novembro de 2001 (que por sinal, meu aniversário) é falado dando-se nota ao caso 'Lewis Carroll e a menina Alice':
Nenhuma especulação, no entanto, desperta tanta curiosidade quanto as que se referem à vida do autor e à sua relação com a ninfeta Alice. Na leitura que faz da questão, Gardner esquiva-se de apostar na tese de pedofilia, deixando a questão em aberto. ''Estava Carroll apaixonado pela Alice real? Sabemos que a sra. Liddell percebeu algo de insólito nas atitudes dele em relação à filha, tomou medidas para desencorajar-lhe as atenções e finalmente queimou todas as primeiras cartas para Alice''. Mais à frente, ele completa: ''As menininhas de Lewis Carroll talvez o atraíssem precisamente porque com elas se sentia sexualmente seguro. Havia na Inglaterra vitoriana uma tendência, que se reflete em grande parte na literatura e na arte, a idealizar a beleza e a pureza virginal das meninas. Isso sem dúvida tornou mais fácil para Carroll dar por certo que seu gosto por elas se situava num elevado planoespiritual.''
Uma das melhores páginas sobre esse conflito não está, no entanto, nesta edição comentada, mas sim na interpretação de Katie Roiphe, autora de Still she haunts me (Ela ainda me assombra), livro que romaceia a relação entre Carroll e Alice. Para Roiphe, ensaísta renomada que deu com essa história seu primeiro passo na ficção, há uma certa nobreza no autocontrole de um homem que lutou a mais árdua de todas as batalhas do mundo: seu próprio desejo. Ela diz: ''É impossível para nós contemplar um homem que se apaixonado por garotinhas sem querer colocá-lo na prisão. As sutilezas, para quem vive as paranóias do século 20, são difíceis de serem compreendidas. O amor de Carroll não era nabokoviano; era delicado, torturado e esquivo. Era uma paixão muito estranha e complicada para ser definida em uma única palavra'', escreve. Ao fim de um artigo escrito recentemente para o jornal The Guardian a respeito de Carroll, ela conclui: ''Ele tinha pensamentos, impuros, sim. O que importa, no fim, é o que ele fez deles.'' - São alguns trechos retirados da matéria do JB.
Em comunidades do autor no site de relacionamento Orkut, é possível ser encontrado tópicos em que próprios fãs debatem o mistério de ordem psicológica que ronda em torno de Carrol e Alice. Há quem o defenda, alegando não haver nada de pervertido no autor fotografar meninas em trajes seminus, uma vez que na época a nudez em uma fotografia representava no campo estético a pureza angelical. Já outros, afirmam que havia sim uma conduta de conotação sexual referente a semelhente fascíno pelas meninas.
O caso fica em aberto, e cabe a cada um tirar suas próprias conclusões. O fato é que Alice no país das maravilhas é mais que uma obra, é um clássico com grande valor existencialista, linguístico e psicológico que faz de Lewis Carrol um dos mais importantes nomes da Literatura mundial, além de fonte de estudos entre estudiosos, referência à escritores e aos amantes da literatura.
A dúvida relacionada ao autor e a pedofilia, só faz de sua vida e obra tornarem-se ainda mais interessantes e um assunto sempre bom a ser discutido. Carrol é um mestre.